Confesso que a par do primeiro mês, esta notícia foi a nossa primeira grande dificuldade mas também o nosso maior alívio.
A minion desde cedo que apresentava um quadro de vómitos, diarreia, muito refluxo, chieira no peito e assaduras constantes que chegam a fazer feridas/ queimaduras. Apesar de tudo o que fazíamos e todos os cuidados de higiene, as assaduras teimavam em não passar e não era fácil para nós perceber o que se passava. Os episódios de vómitos tornaram-se cada vez mais agressivos e assustadores. Desconfiei logo de alguma alergia ou intolerância, dado que eu e o pai tínhamos histórico de alergias e intolerâncias alimentares, e verificavamos o agravamento do estado sempre que eu consumia alguns alimentos.
Apesar de confuso, tinha quase uma certeza óbvia de qual a razão, mas por ter sido inicialmente descartado pela pediatra, considerei que poderia estar errada. Ainda assim,e desconfiada, comecei a tentar fazer o teste por mim, ou seja: evitava o alimento por um período de tempo e via como era a evolução do estado da bébé; depois de estabilizado ( alguns dias sem sintomas) introduzia novamente o alimento na minha alimentação. Dado que ela era amamentada, consegui perceber claramente as diferenças.
Fiz várias vezes challenge através da minha alimentação, sempre duvidando do meu coração de mãe. Piorou quando as fezes começaram a apresentar sangue, sinal claro de inflamação intestinal.
Existem exames sanguíneos que se podem fazer nesta idade mas podem dar resultados inconclusivos, pelo que a evicção até idade maior (a partir de 1 ano) é aconselhada. A reacção mais evidente era com os lacticinios. Seguiu-se depois reação a ovos e a carne vermelha (mais tarde percebi que pode haver associação das proteinas de vaca e os anti corpos reagem à carne vermelha, apesar de raro).
Isto tornava a minha tarefa bem mais complicada do que parecia e sempre com dúvidas se o alimento “passava ou não passava” no leite. Ainda que a única coisa que está comprovada que passe em quantidades reativas seja a caseína, proteína do leite de vaca, havia sintomas idênticos com outro tipo de alimentos.
Decidi eu ir fazer análises a intolerâncias (avaliação sanguínea) e descobri também intolerâncias a coisas que comia frequentemente ( kiwi e ovos, por ex.). Assim começou o grande desafio… Por mim e por ela.
Tive que alterar toda a minha alimentação para excluir aquilo a que eu era intolerante e que a ela fazia (ou eventualmente faria) reacção. Apesar de saber que com o tempo tanto as minhas como as dela eventualmente poderiam atenuar ou desaparecer, o estado inflamatório intestinal já era evidente pelo que tinha que cortar com toda a forma desses alimentos. E toda a forma era descobrir onde existia leite disfarçado e abolir essas coisas. Entrámos assim no grande desafio…
Nada de glúten, leite, ovos ou soja. E já agora amendoim e caju também não se faz favor. E agora?
Se eu não fosse uma adepta ferranha da alimentação saudável e gostasse de cozinhar, esta fase teria sido claramente mais complexa. É aqui que o meu blog entra para que pais ou pessoas na mesma situação possam usufruir de todo o sabor de receitas fáceis, sem deixarem de ser saudáveis e sem nada que lhes faça mal.
Posso-vos dizer que nesta minha caminhada de descobrir os alergénios, descobri leite em coisas como legumes assados congelados. Incrível não?
Começou a verdadeira caça ao “produto mau” e que constava basicamente em tudo o que era processado. Engane-se quem acha que as coisas que estão nos corredores dos supermercados, na zona supostamente saudável,são a melhor opção. Existe muita porcaria escondida e o grande segredo é saber ler corretamente os rótulos para não sermos enganados ( brevemente farei um post para vos ajudar neste tema).
Ir a restaurantes,comer fora de casa, ir simplesmente de férias para um Hotel era um verdadeiro filme. Principalmente porque o leite está em tanta mas tanta coisa que a maioria de nós desconhece e que, à partida, o senso comum diria que era um alimento seguro ( como o exemplo de cima). Explicar a familia, amigos, pessoas que trabalham em restaurantes ou cozinheiros que o problema nao era a lactose e que “leite sem lactose” fazia igualmente mal, era bastante complicado sem que achassem que “tinhamos mania das dietas”. Infelizmente nada tem a ver com uma simples “mania” mas sim com uma necessidade que até poderia ter sido uma escolha, mas que neste caso era uma imposição por saúde. Infelizmente, hoje em dia, posso dizer que a nossa restauração e hotelaria não está minimamente preparada para estes casos, o que em casos mais graves que o nosso, tornam a sociabilização destes pais e crianças bastante reduzida e limitada…
É importante também vos alertar para o facto de que medir as alergias apenas por IgE nao é suficiente. Este indicador poderá ser negativo mas existir inflamação do aparelho digestivo e da parede intestinal por reacção ao alimento e esta reacção ser espaçada no tempo. É assim a chamada alergia não medida por IgE.
Convém, no entanto, esclarecer o que é o APLV.
“APLV é a sigla de alergia à proteína do leite de vaca, uma reação do sistema de defesa do organismo às proteínas do leite. Quando a pessoa com APLV ingere alimentos que possuem as proteínas do leite o seu sistema de defesa as reconhece como uma substância estranha e libera na corrente sanguínea anticorpos (IgE) ou células inflamatórias, acarretando reações gastrintestinais, de pele, respiratórias ou sistêmicas. Estima-se que 2 a 3% das crianças menores de 3 anos possuem APLV. Não é a mesma coisa que intolerância à lactose, que é mais frequente em adultos e idosos e está relacionada com a falta ou diminuição de lactase, enzima que digere a lactose. Neste último os sintomas são essencialmente gastrointestinais, quando os sintomas na APLV são cutâneos (placas vermelhas na pele, coceira, descamação, etc.), gástricos e intestinais (diarreia, sangue nas fezes, intestino preso, vômito, regurgitação, cólicas intensas, etc.), respiratórios (respiração difícil, chiado, etc) e sistêmicos como a anafilaxia.”
Infelizmente a evicção não passa apenas por “leite de vaca” pois o leite de cabra, ovelha ou de búfala são muito semelhantes às proteínas do leite de vaca e a probabilidade de reacção cruzada entre essas proteínas é de 92%. Por este motivo nem esses substitutos devem ser usados… E acreditem, eu já testei…e não correu bem… 🙁
A pele da Minion também era bastante atópica, reagia a tudo e apresentava eczemas que tendiam a piorar assim que o alimento era ingerido.
Quando alterei a minha alimentação, e retirei tudo o que supostamente no meu sangue tinha reagido com indicadores IgG (intolerância e não alergia) mas principalmente toda e qualquer fonte de lacticinios ou carne vermelha, os sintomas regrediram até à sua quase anulação. Na fase de introdução alimentar dela a sólidos, esta teve que ser feita com bastante rigor, estando sempre atenta a sinais de potenciais alergias ( que até agora já foram alguns). No caso da baby e ainda bem, por um lado, os resultados das IgE vieram todos negativos e temos esperança que tendencialmente e sendo amamentada, os sintomas desapareçam ao longo do crescimento dela. Para já, mantém-se a evicção total destes alimentos.
Conselho: Este foi um tema que me assustou bastante no ínicio mas foi também o propulsionador deste blogue. Claro que ajudou imenso eu gostar de cozinhar e de experimentar coisas novas mas acredito que para quem não tem já hábitos de evicção de certos alimentos possa ser bastante confuso e solitário. Felizmente a baby melhorou mas conhecemos casos de crianças brutalmente alérgicas e que passam muito mal. E infelizmente estas reacções são cada vez mais frequentes.Porque será?
Não desanimem, nas minhas receitas vou ter sempre opções bastante saudáveis, para pais e bébés, para vos ajudar na vossa caminhada. Igualmente para pais que pretendam experimentar versões mais saudáveis, porque não?
Espero que este artigo vos tenha sido útil. Partilhem as vossas experiências com #easytoliveblog e com amigos. Sigam o nosso Instagram ou Facebook e não percam pitada das novidades, que vão ser sempre muitas.
Make it easy & be a happy mom!:)
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